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Psicologia e Psicanálise

Existem diferenças no trabalho do psicólogo e do psicanalista. A psicologia é uma profissão regulamentada, com órgão de classe e requisitos formais, assegurada por um diploma de curso superior. A psicologia é plural, conta com várias possibilidades de atuação, como a área organizacional, do trânsito, social, terceiro setor, neuropsicologia, entre outras. A área clínica é somente uma em meio a várias.

Nesta, é preciso de um referencial teórico compatível com diretrizes do CFP (conselho federal de psicologia), como por exemplo a psicologia analítica, a psicanálise, comportamental, abordagem centrada na pessoa, gestalt, etc. Focarei no encontro entre psicologia e psicanálise. Baseado no referencial teórico psicanalítico, um psicólogo está autorizado a atender, sendo um psicólogo de orientação psicanalítica. Porém, a psicanálise não é uma abordagem da psicologia.

Psicanálise como profissão

Outros profissionais, que não médicos ou psiquiatras, podem praticar a psicanálise desde que tenham o necessário. É possível fazer uma especialização em psicanálise, uma pós-graduação ou até mesmo um curso que se denomina “curso de formação”. Porém, nenhuma dessas opções garante que, ao final do processo, haverá um psicanalista.  Isso acontece porque para que uma formação certifique um profissional, seria necessário um órgão regulador, o que a psicanálise, não possui.

Este fato pode causar um estranhamento nos primeiros contatos com a psicanálise, surge a pergunta “então, qualquer pessoa pode se dizer um psicanalista?”. A resposta é não.

A formação em psicanálise

Mesmo que não haja um órgão regulador ou treinamento formal, não quer dizer que não exista uma formação, por outras vias que não as acadêmicas formais. É preciso que o praticante tenha sólida vivência como analisando, além de um conhecimento teórico e tempo de supervisão (ou chamada de análise de controle) suficientes. A relação do praticante com o inconsciente não é transmitida com um tempo combinado de antemão, como ocorre em tantos “cursos de formação”, O tempo para que alguém se autorize psicanalista e consiga sustentar este lugar sendo ativo no meio e com a competência de conseguir praticar a psicanálise exige um tempo indeterminado. Podem ser 5, 10, 30 anos ou ainda mais – O processo é individual.

É preciso que o praticante tenha vivido uma transferência, a saber, o motor do processo analítico. E mesmo depois de uma análise, a transferência não é absolutamente liquidada. Sobra um resto, que pode se tornar “transferência de trabalho”, de modo que o praticante seja confiado e confie em outros praticantes para desenvolvimentos baseados na psicanálise, integrando assim um instituto ou uma escola. Importante checar a confiabilidade e a história de quem oferece um curso de psicanálise, no ensino de psicanálise lacaniana, o instituto garante o acesso à informação, mas jamais uma garantia de formação. Assim, ao iniciar uma análise, pode ser uma excelente ideia conhecer a história daquele analista, a relação dele com a prática e o que ele já produziu.

Exclusividade da prática analítica

Há quem critique o fato do exercício da psicanálise não ser exclusivo de psicólogos ou psiquiatras, o que fez com que Freud, em 1927, escrevesse um texto chamado “A questão da análise leiga”.

Logo no começo do texto, Freud indica que chama de leigo aquele que não tem formação de medicina, diz que o campo da psicanálise, extenso como já estava na década de 20, se expandiu em direções além do escopo da medicina, assim como fora do escopo de qualquer outra área. Freud, antes de ser psicanalista, foi um médico neurologista, e até esta data, fez referência àquele que pratica a psicanálise como “médico”, substituindo por “analista” mais tarde. Nesse texto de 1927, lemos de forma bem resumida uma série de conceitos psicanalíticos em tom de conversa, e enfatiza como a psicanálise é um campo independente da psicologia ou da medicina. Como área do saber, possui sua epistemologia e fundamentação própria, embora seja muito importante o diálogo com outros saberes. Cito o interesse de Lacan em dialogar com autores de outras áreas fomentando discussões importantes, sobretudo durante o seminário 2.

O que a psicanálise NÃO é

Freud também escreveu o texto “O futuro de uma ilusão” em 1926, no qual ele distancia a psicanálise de qualquer entendimento possível de prática religiosa ou visão de mundo. Tentativas de apropriação de conceitos psicanalíticos pela igreja Universal nos anos recentes tem se mostrado cada vez mais absurdas e repleta de equívocos práticos e teóricos.

Outro texto importante foi escrito em 1919, chamado “Deve se ensinar psicanálise nas universidades?” A resposta do autor é não, devido ao ensino ser inseparável da experiência e trajetória como analisando. Assim, Freud salienta mais uma vez que a transmissão da psicanálise ocorre também sob transferência, e jamais na forma de um saber unicamente teórico.

FREUD, Sigmund. A questão da análise leiga. In: FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 17. (Original publicado em 1926)

FREUD, Sigmund. Deve se ensinar psicanálise nas universidades?. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. (Original publicado em 1919)

FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. ( Original publicado em 1927)

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João Paulo Sampaio

Psicanalista e Pscicólogo

(19) 98374-9638

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Dedicado a escuta e investigação analítica, trabalho na psicanálise de orientação lacaniana. Para abordar a angústia de cada um, seja com quais nomes se apresente, ofereço um espaço onde cada palavra é valorizada, sempre com a singularidade como horizonte.

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